30.11.09

Clichê do Asfalto.

O asfalto sente toda a hora marcada no sol e borbulha de calor, tão quente que rasga a pele de sentido e canções e toques e corpo.
Eu sorria antes porque pensava que era tal música que lembrava tal cheiro, mas era o cheiro que lembrava tal momento, e o momento lembrava a patada na cara de todas as vezes que eu pensava que eu tinha que esquecer o tempo que o asfalto dizia.
Queria mesmo era que o asfalto fosse mudo e sem sentido. Principalmente, que ele não marcasse caminho, porque ele é o culpado pela perda de tempo que há entre um lugar e outro e mantém longe o que poderia ter sido sabido antes.
Eu li o sentido no clichê dos cigarros amigos e senti vontade, sinto vontade e transbordo, mas o maldito trava o andar, finca os pés no chão e eu caio. Queria cair todo dia, se houvesse um caído que segurasse a minha queda. Ele há, mas há para todo mundo, e eu queria um caído só meu e do tudo, para poder cair em cima, e fazer do cigarro amigo meu melhor também e segurar no copo para fazer parar de beber a saudade e sentir que o fluxo de consciência raiovoso que anda conduzindo as palavras parasse um pouco no tempo, fizesse o caminho mais curto ou largasse as mãos e soltasse os cabelos.
Dentro do sonho unilateral de som, fumaça, bebida, corpo, palavra e beijo há aquele toque que corre a coluna e arrepia quando chega no pescoço, blasé, de que o prazer é dito em todos os cantos e é perdido, morto e desacreditado, e uma linha de raciocínio que beira a minha bebedeira emocional, porque eu tenho preguiça, e ela me faz ter medo de correr.
Não resolve rezar para tirar o diabo do corpo se você instalou o seu em mim e não quer tirar com nenhum canto, carinho ou harmonia que me faça sentir que o espaço é menor entre dois. A imaginação que desenha o que pode ser sonho ou mentira ou verdade ainda não me contou se o diabo também é desenhado ou é feito.
Se é feito, é bem. Se é bem, é bom. É bom que seja os dois. Amarro na cintura, prendo no pescoço, abraço, a pele roça antes de rasgar, a ferida abre e tem gosto de doce, fecha e nunca mais esquece.

10 comentários:

  1. Queria que o asfalto me levasse para aquele lugar onde está esse toque além do sonho e que é bom por ser dois.

    É ferida que não dói, mas também não fecha. É boa, se é que isso é possível.

    Beijo, moça! ^^

    ResponderExcluir
  2. Yes. The blues is alright...Sobre teu comments lá no 'inspirar' é que a ordem talvez seja outra, né? Enquanto - dura - ela durar, nós é que vamos morrendo, lenta e gradualmente. Obrigada pela leitura.
    ...
    Agota teu texto. Fodástico! E há uma memória entranhada nos ouvidos, pele, narinas, não? E o cheiro do asfalto reacende vontades e lembrançs. Ai, eu também sou clichê e ainda rimo com você. Cabeça no mundo e os pés na estrada. E com este texto você me lembrou Kerouac. Adorei a trilha.'Ain't too good.

    Abraços e obrigada pela leitura.
    Boa semana.

    ResponderExcluir
  3. feel so suicidial, just like dylan's mr. jones

    ResponderExcluir
  4. Esse texto me lembrou Clarice, acho que por causa do fluxo de conciência.

    Não sei explicar em palavras,as sensações, afinal foram muitas, comouma ferida tem gosto doce?

    Sensível.

    (Nha está em que semestre? Acho que pego dp em estudos literário II, pqp matéria difícil!)

    ResponderExcluir
  5. "O asfalto sente toda a hora marcada no sol e borbulha de calor, tão quente que rasga a pele de sentido e canções e toques e corpo."

    Esta tua frase me deu vontade de ser asfalto...

    Um beijo!

    ResponderExcluir
  6. me fez lembra de uma amiga que caiu no asfalto sexta. se rasgou toda, a pobre.

    e tuas palavras, como eu já havia sentido, são escritas em ritmo cardíaco. pulsante.

    ResponderExcluir
  7. eu já te disse que poderia passar o resto da minha vida somente lendo isso qaqui e estaria tudo bem?

    ResponderExcluir
  8. De um lado ao outro, a vida segue seus objetivos compostos e cheios de sintomas e velhos e corrompidos - mas ao mesmo tempo tão puros e simples, demais até (lhes basta um suspiro espontâneo para que o caminho no mapa se ilumine).

    ResponderExcluir
  9. Tão intensas essas palavras...

    Se é bom, é por ser dois.

    ResponderExcluir
  10. putz... melhor trilha sonora,ever!
    the blue is ALRIGHT!

    ResponderExcluir