28.9.10

58.

            Eu e ela. Elaeu. Euela. Eula. Eu lá, boiando com a cabeça interna. Pegou na minha mão pra não se perder de mim e foi muito bonito. Senti como se estivesse naquela história daquela menina pirada, que foi pra um mundo pirado e pirou nas coisas num mundo em que só conseguiu conhecer quando chorou pra cacilda e entrou pelo buraco, feito eu. Foi, então, que eu resolvi colocar um nome nela. 
A mãe me disse que era legal colocar nome nas coisas, nas pessoas e no que a gente sentia, e eu sentia a cabeça interna do meu lado o tempo todo. Ela não soltava de mim, mesmo sem ter dedo nenhum. Havia horas, naquele vai e vem das ondas que eu havia ventado, que ela tentava me dar abraços, mas não conseguia porque não tinha bracinhos. Quando pensei nisso, virando esquina, lembrei daquela musiquinha do bolinho de arroz e comecei a rir! Pena que a risada não me trouxe lembrança de nome nenhum. Batizei , então, de Bolinho de Arroz, tão bonita comigo naquele momento úmido e ventoso, sem saber pra onde e se realmente íamos. Sentia a mente na minha mão, engolindo todas as letras d’água. Pensei: - Vai vomitar, a pobre!, mas nada. Fiquei entediado e com vontade de engolir letras também, mas me sentia tão leve na onda que me deixei levar.
Chamei Bolinho para dizer que estava sentindo cócegas no coração, e que risadas queriam dar um beijo na testa dela, perguntar se ela se incomodava por ser uma mente sem gente. Ela atendeu virando os olhos e acabou batendo numa lagarta cabeluda, daquelas que queimam a gente quando alguém fala palavrão, cospe no chão, joga lixo na rua e não dá espaço no ônibus para velhinhos. A lagarta olhou feio pra ela, coitada, senti-me até um pouco mal por ser tão improvável que eu a defendesse de alguma cuspida ou bofetada. O maior problema, na verdade, não foi o trumbico, foi o rabo da lagarta que ficou preso nos cabelos da Bolinho. Alguém já viu um Bolinho de Arroz cabeludo? Graças a mim, passou a existir uma dessas raridades! O mais estranho é pensar numa internidade com cabelo. Isso, sim, é muito esquisito e nem eu mesmo sou capaz de inventar essas coisas.
A lagarta era preta, tinha dentes muito grandes e soltava pelinhos. Quando olhei de perto, confesso que queria ver se o gosto dela era bom, pra ver se discutiríamos algum sabor, mas ela sorriu tão grande pra Bolinho que eu sorri também e fiquei contente, até que senti que algo batia na minha barriga. Dava cutucadinhas que subiam, subiam e foram subindo até chegar na garganta. Abri a boca pra ver se era alguma letra que, eventualmente, eu teria engolido. Vi bem pequenos dois A, dois E, um S, R, um C segurando uma minhoca, um R e um P entrando correndo pra dentro da minha boca e, quando eu levo susto, eu arroto. Arrotei.
Bolinho deu risada, muita risada, e quanto mais ela ria, mais eu o fazia também, e quanto mais eu o fazia, percebi que apareciam uns pontos coloridos na maré-luca, virando esquinas, brotando das marolas e chovendo do céu e dos ladinhos. A lagarta negoga começou a soluçar de tanto que estava sorrindo e começou a puxar os pontinhos coloridos pra dentro da boca, e todos eles iam se juntando e formando as partes de uma gente que eu não sabia quem era e que se seguravam nos dentes para não doer tanto. Parecia um quebra cabeça de mente. Falei pra Bolinho conseguir um reunido de pontinhos daquele para ela poder morar e ser feliz, mas ela não soltou nem de mim, nem da bicha preta.
Para chegarmos no tempo para que ele passasse rápido por nós, ela começou a me contar coisas que ela tinha dentro de si, das quais eu só consigo me recordar de uma, porque foi a única que eu dei o pedacinho de pão de atenção que eu tinha guardado no bolso da calça. Disse ela que eu mesmo havia contado a ela tudo aquilo um dia lá de trás, mas... era mais ou menos assim: 

Contaram uma vez sobre um lugar e disseram que eu gostaria de estar lá. Dizem que lá tem coisas que acontecem dia sim e dia não, só que todo dia é dia sim. Quando chove, diz que nada acontece porque tudo nada. A flor que não nasce é porque nasceu do lado errado. E a gente gira, gira, gira que nem parafuso até chegar ao céu. Chegando, contam pra gente de um lugar que a gente esteve e que eles gostariam de estar. Empurram pelas costas e a gente cai numa nuvem que cheira a doce. Ela reclama um pouco no começo, mas depois bate um papo gostoso que nem brigadeiro de festa. Como a nuvem é alérgica a pele de gente, ela espirra e a gente sai voando e voando. De primeira, dá medo, porque gente não tem asa, mas, depois, há-há-há, é só festa: sai uma bruta de uma asona azul, rosa e verde, cheia de risquinhos pretos, bem bonita! A gente pode pousar onde quiser, quando quiser, como quiser. Deve ser um lugar bacana, que nem banana.

Enchi meu peito e fiz questão de dizer em alto e bom tom: - É tudo mentira!, e ela fez bico.

15.9.10

Retalhos Também.

Minha monamiga Luna foi incumbida de uma missão, ao meu ouvir, suculenta, e repassou-a para mim: formar uma lista com 50 e tantas músicas e canções e sons e melodias que marcaram minha vida.

Não uso este espaço para falar de mim e da vida, mas, tratando-se de música, aprecio trocas. Sou uma pessoa muito chata pra música e pra mais um monte de coisas, e talvez seja por isso - e pela minha cara de quenga nerd - que há gente acha que eu gosto de música de gente fina. Eu não sou fina. O que acontece entre mim e a música é o método arrepiou. Levantou os pelinhos do meu braço, querido, é música pra mim. Mesmo assim, diferentemente de minha monamiga, não sou chamada de eclética. Há quem pense que eu só escuto Emerson, Lake & Palmer e todos os amigos do rock progressivo tododiatodahoraotempotodosemparar, e não é bem assim que o trem anda. Quem crê nisso sente-se mais confortável ainda neste pensamento quando descobre que meu TCC da faculdade foi sobre uma música da uma banda de prog "Ai, menina metida..." e quando veem minha cara de paca. Chega ao ponto de soar um crime quando falo para essas pessoas, por exemplo, que eu gosto da voz do Roland Orzabal, dos Tears for Fears. 

"Iasmiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiin, que decepção!"

F***-se

Minha história musical começou quando eu comecei a ouvir rock progressivo, é certo,  mas se hoje em dia eu gosto de samba de roda e blues ao mesmo tempo, é porque eu comecei com rock progressivo. Cada um começa por onde tem que começar, e eu descobri em mim que o sentimento de todos os sons é um só, seja feito por piano, por viola, por orquestra ou atabaques. 
Vou tentar não explicar minhas escolhas. Sintam-se à vontade para dar opiniões, críticas, reclamações e gostosuras:

  1. Trilogy - Emerson, Lake & Palmer
  2. The Endless Enigma (part 1 - Fugue - part 2) - Emerson, Lake & Palmer
  3. Tarkus - Emerson, Lake & Palmer
  4. Heroes - David Bowie
  5. Moonage Daydream - David Bowie
  6. Lady Grinning Soul - David Bowie
  7. In The Court of the Crimson King - King Crimson
  8. 21st Century Schizoid Man - King Crimson
  9. I Could've Had Religion - Rory Gallagher
  10. Tattoo'd Lady - Rory Gallagher
  11. I'm Not Awake Yet - Rory Gallagher
  12. Head Over Heels - Tears for Fears
  13. Wow - Kate Bush
  14. Moving - Kate Bush
  15. Don't You Forget About Me - Simple Minds
  16. Blue Mood - Johnny Winter
  17. Soon - Yes
  18. Perpetual Change - Yes
  19. Limelight - Rush
  20. Te Amo Podes Crer - Arnaldo Baptista
  21. Tacape - Arnaldo Baptista
  22. 2001 - Os Mutantes
  23. Ave Lúcifer - Os Mutantes
  24. Songs From The Woods - Jethro Tull
  25. Caxinguelê das Crianças - Clementina de Jesus
  26. A Máquina Voadora - Ronnie Von
  27. Ponto de Ogum Yara - Sabe-se-lá-quem-foi-que-cantou-pela-primeira-vez
  28. O Tempo Não Para - Cazuza
  29. Carta al Che - Inti Illimani
  30. La Guarapachanga - Félix Chapotin y Miguelito Cuní
  31. You Got To Walk That Lonesome Valley - Mississippi John Hurt
  32. Immigrant Song - Led Zeppelin
  33. Ramble On - Led Zepellin
  34. Ao Poeta - Novos Baianos
  35. Good Day - Nektar
  36. Hunting High and Low - A-ha
  37. Take on Me - A-ha
  38. Look at Little Sister - Stevie Ray Vaughan
  39. Love Struck Baby - Stevie Ray Vaughan
  40. Lugar do Caralho - Raul Seixas
  41. On The Rocks - Vímana
  42. Spoonful Blues - Charley Patton
  43. Perguntas - Vímana
  44. Partido Alto - Clementina de Jesus e Clara Nunes
  45. Dance On a Volcano - Genesis
  46. Dancing With The Moonlit Knight/Aisle of Plenty - Genesis
  47. He-Man - Trem da Alegria
  48. It's all too much - Beatles
  49. Time to Pretend - MGMT
  50. Mind Games - John Lennon
  51. Summer '68 - Pink Floyd
  52. Nem 5 Minutos Guardados - Titãs
  53. Dívidas - Titãs
  54. Ya Yo Gakk - Steve Vai
  55. Dream On - Aerosmith
  56. Rolling and Tumbling - De qualquer um que tenha gravado esta música
  57. Still Got The Blues - Gary Moore
  58. Pictures at an Exhibition - Mussorgsky
  59. Jazzin' About Suite - Pamela Wedgwood
  60. Faschingsschwank aus Wien Op.26 - 4. Intermezzo - Schumann

Tá, eu fiz uma lista de 60 músicas, e não termina, mon Dieu! Pelo menos, conti meu lado prolixo e não justifiquei nada (caso queiram explicação, perguntem)!

Testem!

Se eu quero “a vida enquanto arte”, corro o risco de cair no estetismo , porque tenho o ar de pretender impor alguma coisa, uma certa idéia da vida. Parece-me que a música – ao menos tal como a encaro – não impõe nada. Ela pode ter como efeito mudar nossa maneira de ver, fazer-nos olhar como sendo arte tudo o que nos cerca. Mas isso não é um fim. Os sons não têm fim! Eles são, simplesmente. Eles vivem. A música é esta vida dos sons, esta participação dos sons na vida, que pode tornar-se – mas não voluntariamente – uma participação da vida nos sons. Nela mesma, a música não nos obrigada a nada. (CAGE apud MORAES, 1983, p.183)




7.9.10

Sem Buraco.

Não beija, não tem sabor, não sua, não nasce, não fala, não entra, não sai. Não olha, não ouve, não sente. Não se fica doente, não fica vazio, não fica cheio, não se cheira. Não se caga, não se mija, não peida, não vomita, não fode, não cospe, não come, não bebe. Não há poço, não há rio, não há mar, não é montanha, não há tripa, não há túnel, não há copo, garrafa, prato, não imprime, não escreve. Não se arrota. Não há Pringles. Não há pote, não há pacote, não há vaso, não há mangueira, não há ralo. Não há cu, não há boceta, não há pica, não há nojo.

1.9.10

Desculpem-me o transtorno...

... estou em reforma para tentar melhor escrever. Sabem como é, repaginada dá um animozinho gostoso. Tomara que dê certo!

Obrigada!