Precisava de um pouco de raiva, insegurança, calor e água. Não quis o que havia porque era covarde e tinha medo. Medo eu não queria.
Tomei uma xícara de café e engoli tudo como se fosse de ontem. Desceu amargo, arranhou a garganta e não eram unhas de amor que iam embora. Era outro começo.
Feito quem vende a alma em encruzilhada, saí de casa sem trancar a porta, sem trocar de roupa, e fui caminhando descalça. Não sabia o que eu queria, sabia que precisava e desejava.
Senti um violão nas costas, outro n'alma, um no peito e um na cabeça. As mãos fervilhando, os dedos caminhando ao meu lado. Foi assim que tomei coragem e parei.
Sentei no chão, olhei meus lados e vi que tudo dentro de mim pesava mais.
No retorno de um suspiro, veio alto: Graças a Deus!, e foi então que veio o que eu queria. A face limpa e suja, o sorriso era torto e o cheiro era de molho de amora.
Estendeu a mão, eu fiquei cor de vinho, alargou o sorriso e perguntou: Quer dançar comigo? Eu te levo de volta para casa, te ponho na cama e te cubro.
Não tive tempo de aceitar, pois já tinha aceitado antes do convite. O peso foi aumentando, os dedos foram sozinhos dançando e eu já não era mais, nem era menos.
No entanto, o que ele queria era ouvir 'sim'. Então, com meu braço apertado pelos dedos sujos, eu disse. Segurou-me mais ainda, abraçou-me forte, deu a volta em minha cintura, explodiu um beijo nos meus lábios e tomou meu corpo para si. Terminado o processo, fez questão de olhar para mim e dizer que a última mocinha que quis o mesmo que eu fora na década de 20, e que eu estava atrasada.
O número de violões aumentou. Meus pés cravando no chão, uma dor quase insuportável, deliciosa, e saiu um grito alto, que correu cru até o outro céu que fica além do que eu conhecia.